5 de dez. de 2007

Piraúna

Piraúna, que olhando no mapa encontrei Piauma. Não sei se mudaram ou mudei eu, nos recônditos de minha memória. A passagem por esse lugar ficou na minha lembrança para o resto da vida por causa dos episódios que marcaram traços de importância na caminhada de minha existência. Cheguei àquele povoado vindo de canoa de Ubaitaba. Procurando me hospedar em pequena e única pensão existente naquela época. Isto é lá pros anos 40. Logo de primeira, a dona da pensão me levou na cozinha para me dar um copo com água e de imediato foi se insinuando naquela ânsia incontida de sexo, onde, eu também no fogo dos meus 20 anos, não medi esforços e ali mesmo apressadamente curtimos nossos desejos incomensuráveis. Esta mulher trajava-se de cigana. Vestido comprido quase todo feito de retalhos vermelhos, cabelos compridos presos com um pente grande, era morena, esguia, tipo cigana. O marido parecia que não se importava, pois nas ocasiões que eu ia à cozinha curtir a cigana, deixava-o na sala conversando com as pessoas. O meu reencontro com a cigana se deus meses mais tarde quando lá voltei e encontrei outra pensão e à noite ao entrar no meu quarto encontrei a cigana a me esperar, amável, sorridente e sensual. Deixando-me contrariado, pois já havia combinado com a dona da pensão para vier me fazer companhia durante a noite. Com a presença da cigana o trato foi desfeito. O jeito foi me contentar com a cigana mesmo. Mulher terrível, depois do primeiro e segundo exercício, ela insistiu por mais! Aí não agüentei e desisti. Ela saiu dizendo que iria atrás de homem porque não estava encontrando. Saiu alucinada. Sou mais tarde, meses depois, que um negociante, seu amante, havia lhe dado uma surra por traição – a mulher traía demais.

Meses depois chego à cidade e não encontro pensão e nem cigana e nem nada. Pedi ao chefe do Instituto de Cacau da Bahia daquele lugar para dormir num armazém aberto que lá existia, cheio de cacau ensacado. Quando me preparava para dormir escuto discussão numa casa do fundo do armazém. Era um casal brigando e imediatamente escuto pancadas e gemidos. Tive impressão que havia morte naquele episódio. Não dei importância ao fato e fui dormir, viajando no outro dia cedo. De volta uns cinco dias depois, estando dormindo no mesmo local, ouvi vozes de mulheres na porta do armazém. Pensando na cigana fui ver e encontrei uma mulher forte de cor escura. Convidei-a para me fazer companhia, aceitou e pronto. Depois dos inevitáveis exercícios fomos conversar, quando contei o que havia ouvido na última noite que tinha dormido ali, ela disse: “Foi comigo, eu moro nesta casinha aí. Foi meu marido, deixe uma surra de facão e quase mato”. Aí eu disse comigo mesmo: “Estou mal acompanhado”. Mesmo assim fomos dormir ali mesmo em cima dos sacos. Quando me levanto lá pela madrugada, procuro a mulher, nada, procuro minha calça e nada, procuro o dinheiro, minhas férias, produto daquela excursão e não encontrei. Aí tremi de medo. A calça era única. Como sairia daquela situação num lugar desconhecido sem dinheiro e nu? Situação terrível que não desejo a ninguém. Saí por entre as filas de sacos pela madrugada a procura da mulher. Vejo um fogo um pouco distante. Fui para lá. Que felicidade. Encontrei a mulher se esquentando no fogo que ela mesma fez. Quando me acocorei junto a ela, percebi logo minha caça enrolada no seu pescoço. Quando pedi, ela teve até um susto pois pensava que era uma toalha. Verifiquei o bolso e o dinheiro estava lá. Sem faltar um tostão, ela apanhou a calça por engano.

Hoje, quase sessenta e cinco anos depois, ainda me recordo da viagem de volta daquele povoado, viagem feita de canoa onde o murmúrio das águas eixa fascinado qualquer visitante que se arriscava visitar Piraúna. Quando olhei aquele povoado cheio de mistério e aventura e ao ver as luzes perdendo o seu brilho, pois os raios solares chegava invadindo tudo, lembrei-me do título de um filme que não assisti: “Foi a última vez que vi Paris”.


Imagem: www.guardioesdaluz.com.br/ciganoshistoria.htm



2 comentários:

Anônimo disse...

Seu Geraldo, suma memória está ótima. Piraúna existe e, até hoje, é distrito de Ubaitaba. Pena que não consegui fotos...

EDILENE disse...

OLÁ SEU GERALDO!
QUE INTERESSANTE SUA HISTÓRIA,SOU DE PIRAÚNA E SEMPRE PROCURO ALGO DA HISTÓRIA DESSE LUGAR QUE AMO.SEMPRE SOUBE DAS FESTAS E DAS HISTÓRIAS DE AMOR QUE SURGIRAM POR AQUI. A POUCO TEMPO,A PROFESSORA ANA DUARTE PUBLICOU UM LIVRO SOBRE SEU CUNHADO, O COMPOSITOR FERNANDO LONA E RELATOU ALGUMAS HISTÓRIAS INTERESSANTES DO MEU LUGAR.COMO A GEOVANA DISSE,PIRAÚNA AINDA EXISTE E ESTÁ LINDA.CASO O SENHOR ESTEJA INTERESSADO EM VER UMA FOTO DA NOSSA COMUNIDADE,VISITE NO ORKUT A COMUNIDADE"PIRAÚNA EU CONHEÇO".UM FORTE ABRAÇO.
GOSTAREI DE VER OUTRAS HISTÓRIAS DE PIRAÚNA NO SEU BLOG.

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