No final da década de 40 existiam em Salvador, figuras pitorescas que enriqueciam o folclore baiano. Entre elas estava a mulher de roxo que assim se vestia e não sei porquê razão. Seus trajes eram como se fosse um hábito de freira e vivia sentada nas escadarias dos prédios da Rua Chile. Calma, sem ofender a ninguém parecia uma monja só olhava, só pensava e nada mais.
Outra figura inesquecível era Cuíca de Santo Amaro. Poeta de Cordel. Quando acontecia algo de extraordinário, ele versava os acontecimentos com ironia e onde tinha aglomeração de gente, ele gritava mercalizando seu livrinho e assim ganhava vida. Como o caso da mulher de Brotas, que lhe deu boa renda. O caso foi o seguinte: Uma mulher que morava em Brotas, com ciúme do marido, decepou a matutagem do pela cepa. Isso deu origem a muitas “fofocas” nas ruas de Salvador. Com essa estória, Cuíca de Santo Amaro “lavou a jega” ganhando muito dinheiro.
A respeito, vale salientar um fato curioso: Nessa época fui fazer um trabalho topográfico no loteamento Nossa Senhora de Fátima, em Camaçari, hoje um próspero bairro naquela cidade. Estando hospedado na pensão Bela Vista, tranquei-me no quarto para fazer a correção dos meus trabalhos, quando começaram a botar em dia “a fofoca da época”, e o caso da Mulher de Brotas, era o mais comentado. Quando estavam discutindo o objeto cortante daquela façanha, eu precisando de qualquer coisa para fazer a ponta do lápis com o qual trabalhava, abro a porta do quarto e peço uma gilete. Para as mulheres foi um grande susto pois não sabiam que eu estava ali. Foi um risada geral. Eu me mantive sério e insisti que queria alguma coisa para fazer a ponta do lápis. Dava a impressão de que eu queria me decepar.
Outra figura bastante curiosa em Salvador era o “Jacaré”, um orador popular que não perdia um acontecimento. Ele ia para a praça pública para fazer discursos sempre inflamáveis. Era alto, moreno claro, bem afeiçoado, compleição atlética não robusta, trajava-se bem. Era quase um galã. Quando queria fazer seus discursos, mas vou me referir a dois deles: Certa feita cheguei ao Comércio, como é conhecida a Cidade Baixa de Salvador, principalmente, mediações do Elevador Lacerda e encontro Jacaré em cima de um tamborete discursando para a pequena multidão. Ele falava de Antônio Maria, radialista natural de Pernambuco que se candidatara a vereador na Bahia. O discurso de Jacaré era nesses termos: “Um pernambucano vagabundo vem de lá de sua terra querendo ser vereador na Bahia. Baiano descarado é quem vota num candidato deste”, e assim por diante. Dias depois, eu soube que pegaram jacaré e deram-lhe uma surra danada. Provavelmente algum correligionário mais exaltado do pernambucano. Quanto a Antônio Maria, não se elegeu e foi embora pra o Rio ou São Paulo continuando sua brilhante carreira, principalmente nos meios radiofônicos.
A segunda vez foi na posse do sucessor de Otávio Mangabeira, quando a Praça Municipal estava repleta de gente. De repente vejo Jacaré no meio da multidão com uma cadeira na mão que tomou na Pastelaria Triunfo e se alojou no meio da massa e começou a gritar: “Governador, venha se despedir do seu povo!”, parava um pouco e repetia sucessivas vezes, até que Mangabeira surge na saca do Aclamação e se despede da multidão que lhe aclamava e aplaudia. Do seu discurso de despedida gravei a seguinte frase: “As obras que fiz pela Bahia não foram por demagogia porque não sou candidato a nada”. Assim se despedia dos baianos aquele que foi um dos maiores governadores da Bahia. Fazendo lembrar do filme “Homens de Honra”.
Imagem: http://setarosblog.blogspot.com/2007/06/o-guarany-de-cludio-marques.html; http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0312.htm
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