Quando eu era menino, aos 7 ou 8 anos, peguei uma pequena cobra de uns 20cm e levei para casa. Arranjei uma garrafa e comecei a introduzi-la pelo gargalo. A cobra tinha as dimensões mais ou menos igual à espessura da entrada do gargalo. Introduzi todo o seu corpo no espaço em que cabia apenas dita cuja. Quando se libertou, a cobra saiu com tanta velocidade que quase me atinge o rosto. Atirei garrafa e cobra pra um lado. Era casa de fazenda. O piso era de assoalho e fez uma zoada danada. Minha mãe ao pressentir coisa anormal, veio ver a estrepolia do filho. É escusado dizer que a brincadeira acabou em chinelada.
Não desisti de brincar com as cobras. Certa feita, peguei um jaracussu, furei os olhos e soltei. Perversidade de quem não pensa. De outra feita, imobilizei uma cobra venenosa de mais de um metro, sozinho no meio da mata. Prendi seu pescoço com um gancho e tirei o couro, que saiu pelo avesso.
Perigo mesmo foi quando eu tinha 18 anos. Tomava conta de uma pequena fazenda de cacau situada bem no alto da Serra Piabanha, mais conhecida como Serra do Jequitibá. Quando ouço Agpê cantar: Moro onde não mora ninguém, lembro-me desta fase de minha vida. Vivia sozinho, trabalhava sozinho e o que era pior, dormia sozinho.
Colhia cacau, quando um fruto caiu numa moita. De lá saiu, furiosa, uma cobra Surucucu Pico de Jaca. Vinha tão furiosa que mais de um metro do seu corpo estava suspensa do chão em posição de ataque. Eu, com muita disposição e pouco juízo, cortei um cacete de um metro e meio e parti pra cima da cobra e dei-lhe uma cacetada, mais outra e mais outra, matando aquela serpente, que no dizer dos entendidos, tinha arriscado a vida, pois naquela posição ela é rápida e ataca a garganta do indivíduo.
Anos mais tarde me casei com uma jovem de 19 anos, bonita, meiga e inocente oriunda do meio rural com aquela simplicidade característica de moça do interior. Eu já experiente com meus 33 anos acreditava que tinha a missão de educá-la.
Quando chegava do trabalho ela vinha alegre feliz me receber me abraçando com meiguice e carinho revisando meus bolsos como à espera de encontrar um presentinho ou uma surpresa qualquer. Eu me deliciava com aquele charme e carinho ao retornar depois de uma jornada de trabalho.
Um dia encontrei um amigo cortador de pedra que me deu um presente inusitado: uma cobra coral dentro de uma garrafinha branca. Uma coisa linda! Botei no bolso e fui para casa. Quando cheguei, encontrei a mulherzinha vindo alegre e feliz a “futucar” meus bolsos como de costume. Quando encontrou a cobra deu um grito e “atiçou” a garrafinha na parede. A arrolha se desprendeu e a cobra escapuliu pior do que uma serpente de maior porte, feroz e agressiva. Quanto mais a mulher gritava mais assanhada a cobra ficava. Foi um sufoco. Pior disso tudo foi que ela suspendeu a lua de mel e fiquei a ver navios.
Hoje trago pra casa passarinhos ou outro bichinho inocente. Cobra mesmo, nunca mais!
Obs: Gostaria de assistir ao filme: “No vale das serpentes”.
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